25 de fevereiro de 2010

Quem Me Mandou a Mim Querer Perceber?

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Biodiversidade: conclusão

A importância da biodiversidade para um ambiente saudável está a tornar-se uma noção cada vez mais viva. Aprendemos que o futuro bem-estar de toda a humanidade depende da forma como gerimos os recursos da Terra. Ao explorar desenfreadamente estes recursos, estamos a ameaçar a nossa própria sobrevivência.
Desde o desaparecimento dos dinossauros que a taxa de extinção de espécies não era tão elevada. Com efeito, a situação é bem mais grave do que podemos imaginar, pois os cálculos desta taxa nunca poderão traduzir a situação real, já que apenas uma pequena percentagem de aproximadamente 14 milhões de espécies que habitam o planeta estão descritas pelos cientistas. Praticamente todas as perdas (pelo menos à nossa escala temporal) são consequência da actividade humana, sobretudo a destruição dos habitats e a exploração desmesurada dos recursos.
Com a crescente pressão do Homem sobre os recursos naturais, provavelmente a taxa de extinção não vai parar de aumentar. Apesar de se começar a definir uma consciência global sobre a importância da biodiversidade, é fundamental tomar acções concretas e urgentes, para evitar que todos os esforços de hoje, não resultem em nada amanhã.

24 de fevereiro de 2010

Mas para quê conservar a Biodiversidade?

A protecção da biodiversidade carece cada vez mais da nossa preocupação, pois se houve motivos para que o homem degradasse a natureza desta forma, com certeza há motivos muito mais fortes, que devemos ter em conta, para aprender a conserva-la.
Podemos considerar motivos éticos, estéticos, económicos e funcionais da própria natureza, para além de muitos outros que advêm da nossa própria consciência enquanto cidadãos e seres humanos, portanto também nós fazemos parte da natureza, e o que a prejudica, também prejudica o Homem.

Consideramos as razões éticas, uma vez que o ser humano, que se considera a espécie dominante, é também como um dos causadores das extinções tem o dever moral de proteger outras formas de vida.
Devemos pensar nos motivos estéticos, pois as pessoas apreciam a natureza e gostam de ver animais e plantas no seu estado selvagem. A biodiversidade providencia uma imensa quantidade de oportunidades recreativas e de valor estético. As actividades recreativas associadas à observação da Natureza geram inumeros postos de trabalho mantendo muitos empregos a tempo inteiro. Os parques naturais são outra fonte de receita e de postos de trabalho, nomeadamente as visitas aos mesmos.

Há que ter em conta também razões económicas já que a diminuição de espécies pode prejudicar actividades já existentes, podendo ainda comprometer a sua utilização futura (por exemplo na produção de medicamentos). Não esquecendo que a economia mundial e as necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos. Têm sido realizados diversos estudos a fim de determinar o valor económico da biodiversidade. Estes cálculos têm em atenção parcelas como a dependência da agricultura das reservas genéticas dos sistemas ecológicos naturais e as receitas que o turismo natural gera anualmente.

Finalmente há que considerar os motivos funcionais da natureza, dado que a redução da biodiversidade leva a perdas ambientais, uma vez que as espécies estão interligadas por mecanismos naturais (ecossistemas), como a regulação do clima, purificação do ar, protecção dos solos e das bacias hidrográficas contra a erosão, o controlo de pragas, e ainda a biodiversidade dos oceanos, é fundamental para a grande produção de oxigénio e consumo de dióxido de carbono.

Será que ainda não há motivos suficientes para mudarmos de atitude?

16 de fevereiro de 2010

Diálogo

A cruz dizia à terra onde assentava,
Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo:
— Que és tu, abismo e jaula, aonde tudo
Vive na dor e em luta cega e brava?

Sempre em trabalho, condenada escrava.
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e horrida lava...

Mas a mim não há alta e livre serra
Que me possa igualar!.. amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!

Sou o espírito, a luz!.. tu és tristeza,
Oh lodo escuro e vil! — Porém a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a Natureza!

Antero de Quental, in "Sonetos"

14 de fevereiro de 2010

Ameaças à Biodiversidade IV

Por vezes as actividades humanas, nomeadamente os transportes de mercadorias e pessoas, provocam a proliferação de certos organismos (algas, gado, moscas, ratos) que se tornam patogénicos e nocivos para os habitats. O Homem introduz plantas ornamentais, animais domésticos e mesmo doenças nos ecossistemas capazes de destruir a fauna e flora nativas, pois não existem predadores naturais. Além disso, o controlo ou a erradicação de uma espécie introduzida invasora, como a acácia ou o jacinto-de-água, é complexo e oneroso.
Ocorre algo semelhante com a introdução de organismos geneticamente modificados, pois estes são criados não só com o intuito de produzir melhores alimentos mas também ser resistentes às pragas. Assim, para além de todos os potenciais inconvenientes dos organismos geneticamente modificados, um dos principais riscos para a biodiversidade é que por serem resistentes, e não terem predadores naturais, vão competir de forma desigual com as espécies já existentes podendo levar à sua obliteração. Contudo, a lei portuguesa não impede o cultivo de organismos transgénicos nas áreas protegidas.

11 de fevereiro de 2010

Ameaças à Biodiversidade III

De igual modo, a caça furtiva é também outra grande ameaça, principalmente para as espécies animais, uma vez que o Homem tira proveito de certos animais devido às suas propriedades, quer sejam medicinais ou com interesse comercial, como as peles e o marfim. É o caso do elefante africano (marfim), rinoceronte (propriedades medicinais), o tigre de bengala, baleia, etc. Ocorre ainda caça furtiva quando uma determinada espécie se torna prejudicial ao Homem, nomeadamente por destruir plantações ou atacar animais domésticos. Um exemplo é o que ocorreu com o lobo ibérico, que praticamente desapareceu do território português.

8 de fevereiro de 2010

Ameaças à Biodiversidade II


Outro factor que afecta a biodiversidade é a desflorestação e consequente destruição de habitats, o que reduz não só o número de espécies vegetais mas também de espécies animais. O homem procura constantemente locais para a construção e para a agricultura, o que leva a uma redução das áreas florestais, conjuntamente com a exploração de madeiras e mesmo os incêndios florestais.
Na verdade, a desflorestação tropical e a degradação das florestas são a principal causa de perda de biodiversidade no planeta o que contribui para uma extinção em massa de espécies, num índice 100 a 1000 vezes maior do que o que poderia ser considerado normal no tempo evolutivo. Um exemplo dessa desflorestação é o que ocorre na floresta amazónica que está a desaparecer a um ritmo cada vez mais acelerado. Só entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004, a desflorestação atingiu o segundo valor mais alto de sempre, afectando mais de 26 mil quilómetros quadrados no espaço de um ano, o equivalente a um terço da superfície de Portugal.

Ameaças à Biodiversidade I

Todas as ameaças à biodiversidade se baseiam no constante desenvolvimento da humanidade e nos diversos interesses económicos que o ser humano tem na natureza, quase sempre sem se preocupar com as consequências.
Após a revolução industrial deu-se um grande aumento da poluição quer atmosférica quer da água e dos solos o que provocou não só efeitos nefastos para o Homem como também para as restantes espécies.
Os diversos danos provocados pela poluição provêm não só dos efeitos directos da poluição como também dos efeitos indirectos. Podemos considerar efeitos directos a presença de contaminantes tóxicos no ambiente que por vezes se mantêm inalterados por muitos anos, a presença de detritos provenientes do lixo doméstico que provoca a morte por asfixia em muitos animais, entre outros. Já os efeitos indirectos da poluição são por exemplo o aumento da temperatura média da atmosfera e das águas que levam a uma dificuldade de adaptação das espécies e são também a causa da invasão de águas salinas em ambientes tradicionalmente de água doce, potenciando assim, a diminuição ou extinção das espécies até então aí presentes.

7 de fevereiro de 2010

O quê? Valho Mais que uma Flor

O quê? Valho mais que uma flor
Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,
Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,
Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?
Mas o que tem uma coisa com a outra
Para que seja superior ou inferior a ela?
Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim.
Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?
A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?
Podia dizer-me: Tu tens consciência porque ter consciência é uma
qualidade humana
E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem.
Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...

Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?

Ah, não comparemos coisa nenhuma, olhemos.
Deixemos análises, metáforas, símiles.
Comparar uma coisa com outra é esquecer essa coisa.
Nenhuma coisa lembra outra se repararmos para ela.
Cada coisa só lembra o que é
E só é o que nada mais é.
Separa-a de todas as outras o facto de que é ela.
(Tudo é nada sem outra coisa que não é).

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

Biodiversidade: Parte I


A biodiversidade é entendida como a diversidade da natureza viva, e engloba não só a diversidade de espécies, como também a diversidade de ecossistemas, tendo como base a própria diversidade genética.
Nos últimos anos, o desaparecimento de espécies e de áreas naturais, consequência da actividade humana, tem ocorrido a uma velocidade sem precedentes. A extinção adicional de mais uma espécie representa uma perda irreversível de códigos genéticos únicos, que estão muitas vezes ligados ao desenvolvimento de medicamentos, à produção de alimentos e a diversas actividades económicas. É do conhecimento geral que muitas das espécies actuais se encontram em perigo de extinção, e muitas outras acabaram mesmo por desaparecer, no entanto, a extinção dita “natural”, em si não é nefasta, e sabe-se que desde sempre se deram grandes extinções. Caso não tivesse ocorrido a extinção dos dinossauros por exemplo, provavelmente nunca teria aparecido a espécie humana. O extermínio de certas espécies pode levar ao surgimento de outras, contudo, o que se verifica nos dias de hoje, é um incremento da indústria e certos interesses económicos que colocam em sério risco a biodiversidade do nosso planeta.
Assim, torna-se necessário proteger todas as espécies, principalmente as que se encontram sob ameaça de extinção. O surgimento de diversos movimentos ambientalistas conseguiu travar alguns abusos, mas é necessário continuar a sensibilizar as populações e os governos para todas as questões relacionadas com a protecção ambiental, sem descurar a protecção das espécies animais e vegetais, pois só deste modo conseguiremos alcançar um desenvolvimento sustentável.

6 de fevereiro de 2010

2010: Ano Internacional da Biodiversidade

Este ano foi o escolhido para ser totalmente dedicado ao tema da Biodiversidade e a sua protecção. Uma série de medidas foram tomadas com o intúito de travar a perda de biodiversidade a nível europeu, bem como a recuperação de habitats e sistemas naturais.
Não podemos ficar Inertes perante este problema, acreditem que nos afecta mais do que aquilo que possamos imaginar. Deste modo, inicio com esta citação, o tema dos proximos posts: Biodiversidade.

"Faz das espécies em perigo uma presença vívida na vida de toda a gente. Esclarece que cada uma destas espécies tem um nome, tem uma história de milhões de anos e tem o seu lugar no mundo. Traz-nos cara à cara com cada uma dessas espécies. Faz-nos reconhecer que elas são as nossas companheiras na biosfera. Elas não são apenas qualquer coisa para considerar de vez em quando, mas fazem parte de nossa existência... Fazem parte de nós."

Edward O. Wilson

2 de fevereiro de 2010

Em nome do progresso...

Em nome do suposto progresso fazem-se muitas asneiras, como pode ser lido nesta notícia. Desta vez, a construção de uma barragem na Amazónia vem não só destruir habitats, reduzindo a biodiversidade, como também deixar cerca de 20 mil indígenas sem casa. Apesar das tentativas destes povos para impedir esta construção, o projecto, que irá dar origem à terceira maior barragem do mundo, foi aceite pelo Ministério do Ambiente brasileiro. E mesmo com as promessas de compensação dadas pelo governo de melhoria das condições de habitação e saneamento bem como recuperação da fauna e flora, os danos serão sempre muito superiores aos benefícios, principalmente porque a energia proveniente da nova barragem será destinada à alimentação eléctrica de empresas que contribuem todos os dias para a degradação da floresta amazónica.

Mais uma vez o interesse das minorias é que prevalece, mas só se forem minorias poderosas...