“Num momento como o que atravessamos, em que uma crise económica e social de âmbito internacional parece ter assentado arraiais mostrando pouca vontade de nos deixar, existe a tendência para concentrar os esforços nas áreas económica e social, colocando em segundo plano os aspectos ambientais. Tal tendência, embora compreensível à luz de uma forma tradicional de ver o mundo, demonstra as lacunas que persistem na compreensão do factor que é verdadeiramente a chave para o nosso desenvolvimento (desejadamente sustentável): o ambiente.
É verdade que precisamos de um rendimento para poder viver, mas esse rendimento não pode estar assente numa base imaterial ou sem especulações, como a situação actual do mundo tão bem retrata. Ora a base real do nosso emprego, do nosso rendimento, são os recursos ambientais. Sem eles não há actividade económica e sem actividade económica não é possível manter a estrutura social. Sem ar, sem água, sem solo, sem todos os recursos naturais que o ambiente nos proporciona todos os dias e de forma tão generosa, não é possível falarmos de bem-estar social e económico.
É claro que quando falamos de sustentabilidade falamos do equilíbrio entre as três dimensões – ambiental, económica e social. Mas também é cada vez mais obvio que é a dimensão ambiental que surge como factor limitante. Problemas como o das alterações climáticas, ou da escassez de água, são exemplos perfeitos de como factores ambientais podem influir de forma drástica nas potencialidades de uma dada região ou pais.
Não é tanto defender a sustentabilidade ambiental (conceito que pode ser visto como uma repetição com pouco sentido, uma vez que o conceito de sustentabilidade já contempla a dimensão ambiental), mas antes ter consciência da influência decisiva e única da área ambiental nas áreas sociais e económicas.
O contexto actual exige uma acção consciente, determinada e consequente, por parte de cada um. Não há tempo para esperar que alguém (seja esse alguém os governos, entidades publicas, empresas, etc.) dê o exemplo e mostre o caminho. Cada um pode ter um papel na construção de um futuro sustentável. Todos podemos e devemos ser agentes de mudança e promotores de um desenvolvimento sustentável nos diversos contextos da nossa vida, enquanto filhos, educadores, profissionais, amigos, vizinhos, etc. Abdicar desse papel equivalerá a contribuir directamente para a manutenção da abordagem que nos conduziu à presente situação de crise. E este é um cenário em que todos perdem e, logo, a evitar a todo custo.”
Susana Fonseca (Presidente da Direcção Nacional da Quercus) para a revista Aposta, CTT, Abril 2010
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